AGRICULTURA FAMILIAR, FORMAS DE AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO NA REGIÃO DAS MISSÕES DO RIO GRANDE DO SUL

Resumo

O objetivo deste artigo é identificar as mudanças realizadas nos sistemas produtivos de agricultores familiares da região das Missões do Rio Grande do Sul (RS) e discutir as implicações que elas geram nas dinâmicas de desenvolvimento regional. Foi realizada pesquisa com caráter histórico e comparativo, através da análise longitudinal das trajetórias de agricultores familiares do município de Salvador das Missões - RS. Coletaram-se dados primários com as mesmas famílias, em 2003 e 2018, com uso de questionário semiestruturado contemplando caracterização demográfica e dos sistemas produtivos. A amostra foi do tipo sistemática por comunidade e as 58 famílias foram definidas através de sorteio. Utilizou-se o referencial teórico da mercantilização da agricultura, destacadamente os conceitos de formas de agricultura e impérios alimentares. Os dados foram analisados através da comparação de painéis e estatística descritiva. Identificou-se três tipos de trajetórias familiares, com diferentes implicações para o desenvolvimento regional. A trajetória de desagrarização total, que gera o esvaziamento dos campos, concentração da terra e a urbanização regional. A trajetória de desativação da produção comercial, com arrendamento das terras e manutenção da produção para autoconsumo, produz uma paisagem regional mais diversificada, com forte presença de aposentados rurais que desmercantilizam os sistemas produtivos e ativam formas camponesas de agricultura, gerando um território mais autônomo em relação aos impérios alimentares. A trajetória de intensificação das formas empresarias de agricultura dinamiza a economia regional, mas a torna fortemente dependente dos impérios alimentares, gerando exclusão produtiva de muitas famílias e concentração das riquezas.