A EDUCAÇÃO INTEGRAL AMEAÇADA POR PROJETOS EDUCACIONAIS TECNICISTAS

Auteurs-es

  • Evandro Both IFFar
  • Letícia Ramalho Brittes IFFar

Mots-clés :

Escola sem partido; Novo ensino médio; Base nacional comum curricular

Résumé

A educação brasileira historicamente foi marcada pela dualidade, sendo que à elite era ofertada uma educação integral, visando o desenvolvimento intelectual enquanto que à classe trabalhadora a educação era estritamente técnica, buscando formar mão de obra para satisfazer as necessidades das classes dominantes. Esse modo prevaleceu desde o Brasil Colônia até o início do século XXI. No início do século XX, em 1909, surgem as primeiras escolas técnicas, as Escolas de Aprendizes e Artífices, que tinham como objetivo, ensinar um ofício às classes mais pobres da sociedade, que encontravam-se em péssimas condições de vida nas primeiras décadas após a abolição da escravidão no Brasil. No decorrer desse século, a educação técnica e profissional foi adotando novas características em cada momento histórico. Na Era Vargas as características do ensino técnico se adequaram a nova forma de organização social. Nos anos 1950 a crescente industrialização do país exigiu a formação mais qualificada de técnicos, modificando a estrutura educacional do ensino técnico e profissional. Em 1971 se tornou compulsória a matrícula no ensino técnico em todo o segundo grau, o que durou até 1982, quando a classe média brasileira exigiu o fim desse modelo educacional, pois não queriam a formação técnica de seus filhos, mas sim uma educação que possibilitasse seguir os estudos nas universidades. A partir da criação da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Rede), em 2008, essa realidade começou a mudar. Nas instituições que fazem parte da Rede, buscou-se desenvolver uma educação integral, principalmente no ensino médio integrado, rompendo com a lógica da educação tecnicista que era desenvolvida nas escolas técnicas e agrotécnicas, até então. Nos últimos anos, quando a Rede estava em processo de consolidação, os movimentos contrários à lógica de ensino integrado, aproveitando a insatisfação, por parte de várias parcelas da sociedade, com os governos progressistas que governaram o Brasil durante 13 anos, intensificaram propostas de reformas do ensino médio. Nesse contexto são apresentadas e aprovadas as propostas do novo ensino médio e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além da apresentação do projeto Escola Sem Partido (ESP). O novo ensino médio e a BNCC apresentam perspectivas de educação notadamente tecnicistas, uma vez que ameaçam a educação integral e pretendem desenvolver uma educação em que o ensino médio proporcione ao estudante escolher entre seguir uma carreira acadêmica ou seguir os estudos preparativos a uma profissão laboral. Na conjuntura de recessão econômica por qual passa o país, a parcela mais empobrecida da população buscará a profissionalização com a finalidade de trabalhar após a conclusão do ensino médio. Assim, a educação brasileira retrocederá à lógica dualista, reservando o ensino propedêutico às elites e classe média alta, enquanto que a educação profissional, sem uma perspectiva de formação integral, fique reservada às classes mais pobres. Ligado a isso, o projeto ESP tem por objetivo evitar que temas políticos sejam debatidos em sala de aula, deixando que a escola se torne o centro de formação de cidadãos críticos. Isso pode levar a educação integral a se extinguir nas instituições de ensino brasileiras.

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Publié-e

2019-07-25