A MATEMÁTICA FINANCEIRA E SUA UTILIZAÇÃO NO DIA A DIA DOS TRABALHADORES RURAIS
Palavras-chave:
Etnomatemática. Matemática Financeira. Trabalhadores Rurais.Resumo
Este artigo foi escrito a partir de uma investigação realizada na disciplina de Prática
de Ensino de Matemática, durante o segundo semestre do curso de Licenciatura em
Matemática, do Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Santa Rosa. Trata de uma proposta de
ensino e análise que se enquadra segundo D´Ambrosio (1990) em um estudo sobre
etnomatemática. Por meio da investigação sobre o uso da matemática financeira entre
trabalhadores rurais procurou-se analisar a formação de conceitos e métodos de resolução de
cálculos sobre juros simples e compostos, traçando aproximações e distanciamentos entre o
conteúdo ensinado em sala de aula e aqueles que são aprendidos nos diversos contextos do
cotidiano. O objetivo é compreender quais são os métodos que os agricultores utilizam na
resolução de cálculos de juros simples e compostos. Para isto foi realizada uma pesquisa de
campo por meio de um questionário composto por dois problemas envolvendo cálculos de
juros com uma amostragem de vinte pessoas com idade entre 25 e 60 anos de três cidades do
Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, todos os vinte entrevistado eram trabalhadores
rurais. Nossa hipótese partiu do entendimento de que os agricultores possuem conhecimento
sobre juros simples e compostos, por os utilizarem no seu cotidiano em compras no comércio
em geral ou quando fazem financiamentos para comprar máquinas agrícolas ou insumos
agrícolas, porém diferentes daqueles conhecimentos ensinados na escola. Percebe-se que os
agricultores procuram saber onde pagam uma taxa de juro mais baixa e onde a soma total
resultante do montante do juro é mais baixo. Ao receberem o questionário impresso com três
cálculos alguns dos pesquisados tiveram um aparente medo ou vergonha para responder as
perguntas, pois sabiam que seus métodos para resolver as questões eram diferentes daqueles
ensinados na escola. Durante a resolução das questões aconteciam perguntas esporádicas,
como por exemplo, se poderiam desenvolver o cálculo de “uma certa maneira como sabiam”
ou se precisam desenvolver conforme foi ensinado na escola. Desta interação os resultados
alcançados foram que os agricultores mesmo não conhecendo as fórmulas para a resolução de
um dos tipos de juros, possuíam saberes sobre suas resoluções, e embora utilizassem um
método mais trabalhoso alcançariam o resultado final correto. Com os dados coletados,
percebeu-se, que 50% dos entrevistados possuíam apenas o Ensino Fundamental completo ou
incompleto. Sendo assim, pelo menos metade dos entrevistados não havia apreendido os
cálculos de juros durante sua educação escolar. Muitos aprenderam a lidar com a matemática
financeira de maneira prática, e outros por meio de explicações rasas resultante de conversas
com amigos e familiares. Os resultados obtidos apontam que os agricultores entrevistados não
possuem regras sistematizadas, mas sim se baseiam na união de conhecimentos práticos e saberes culturais do local onde vivem, e destes saberes geram uma matemática funcional para
o dia a dia. Deste modo pode-se compreender a importância das investigações da
etnomatemática como possibilidade de conhecer e entender as diversas maneiras de aprender
como resolver problemas matemáticos, neste caso, envolvendo cálculos de juros através de
desafios exigidos pelas necessidades diárias.